segunda-feira, 14 de março de 2011

Curso Ciência e Tecnologia



 
 

O Diretor do  FGV Online, programa de Educação
a Distância da Fundação Getulio Vargas, confere a

 Maria Vanderly Silvino
declaração de participação do curso autoinstrucional  Ciência eTecnologia
Rio de Janeiro, 14 de março de 2011
Nível de Atualização, com 15 horas.


Sobre conhecimento efêmero;


Verdade, Mentira, Certeza, Incerteza
Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada,
Desliguei as mãos de cima do joelho
Verdade mentira, certeza, incerteza são
as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade — os meus joelhos
                                  e as minhas mãos.

Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Rosa de Hiroshima

Vinicius de Moraes

Composição: João Apolinário / Gerson Conrradi
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume

Tupinambá

A Criação do Mundo

Monã criara o céu, a terra os pássaros e outros animais. A terra era uma planície sem montanhas nem mares, pois tudo isso surgiria depois.

Os povos viviam em paz, gozando os benefícios da obra do criador; mas com o tempo, os homens se entregaram a tais desatinos que começaram a desprezar o próprio Monã, que residia entre eles.

Ofendido, Monã se afastou dos homens e enviou à terra o fogo celeste que destruiu todos os seus viventes e revolucionou a crosta terráquea, formando montanhas e vales. No caos, salvou-se apenas Irin-Majé que, transportado para o céu, aplacou as iras de Monã; este se compadeceu dos homens e derramou na terra copiosas chuvas que extinguiram o fogo, criando os rios e outras águas. O mar ainda hoje conserva a salinidade produzidas pela combustão das rochas.

Irin-Majé convencera a Monã de que nada lhe serviria viver sozinho num mundo desabitado. Diante disso, Monã deu uma companheira a Irin-Majé e do novo casal surgiu a atual humanidade. Então nasceu um grande profeta, homem sobrenatural a quem, por suas maravilhosas obras, foi dado o nome de Maire-Monã. Este, graças às mesmas metamorfoses e os mesmos poderes mágicos de Monã, de quem era servidor, encheu o mundo de animais diferentes para cada região.

No entanto, apesar de tantas dádivas, logo depois os homens recaíram na integração; chegaram mesmo a pensar em aniquilar seu benfeitor, pois Maire-Monã, com o seu poder de transformar gente em bicho, trazia os homens em desassossego. Para liquidá-lo, reuniram-se todos em certo local e ofereceram a Maire-Monã uma festa à qual o grande caraíba não tardou em comparecer, embora suspeitando das intenções de tal convite.

Lá chegando, os homenageantes introduziram-no a transpor, sem queimar-se, três grandes fogueiras. O caraíba venceu a primeira prova. Mas ao saltar a segunda foi consumido pelo fogo. Sua cabeça, porém, explodiu, chegou até o céu, originando os raios e trovões, que são os símbolos de Tupã. Veio o dilúvio universal. E logo Maire-Monã subiu às nuvens e transformou-se em luminosas estrelas.

Para os Tupinambá, esse Maire-Monã era um anacoreta ou solitário, embora vivesse rodeado de discípulos  ansiosos por suas palavras e ensinamentos. Tinha poderes iluminados; dominava as forças naturais e conhecia profundamente os exorcismos mágico-religiosos.

Ele introduziu entre os Tupinambá a cultura da mandioca e diversos costumes como a tonsurra, a epilação e os ritos dos nascimentos. Desaconselhou-os de comer os animais pesados e lerdos recomendado, ao contrário, a carne dos animais ágeis e valentes. Ao mesmo tempo, ensinou-os a distinguir entre os vegetais daninhos e úteis. E disseminou o uso do fogo que, até então, era conservado nas espáduas da preguiça.

Contaram os Tupinambá que, sobrevivendo uma longa estiagem, Maire-Monã tomara, por compaixão, a forma de uma criança. Bastava bater nela para caírem chuvas que regavam as plantas esturricadas.

Entre os descendentes de Maire-Monã houve um que se chamou Simmai, o qual teve dois filhos: Tamendonare e Ariconte, que eram inimigos. O primeiro era um pacífico pai de família, sempre entregue a sua lavoura; o outro, porém, só cuidava da guerra e sonhava reduzir à servidão os seus companheiros.

Certo dia, Ariconte, cheio de arrogância, atirou na choça de Tamendonare um troféu de guerra e este, repelindo o agravo, pôs-se a golpear o chão, fazendo joviar uma impetuosa torrente. Quando o dilúvio provocado pelo jorro ameaçava cobrir a face da terra, subiram ambos, com suas esposas, ao cimo das árvores. Tamendonare escolheu a pindoba e Ariconte o  jenipapeiro. Desses dois casais sobreviventes do dilúvio, provieram, respectivamente, os Tupinambá e os Temiminó.

Fonte

CASCUDO, Câmara. Tupinambá: a criação do mundo. In: _____. Antologia do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Vozes, 1
Sem rosa, sem nada

A história da Ciência
Como Uma Onda no Mar

Nada do que foi será
de novo do jeito que já foi um dia
tudo passa
tudo sempre passará.
A vida vem em ondas como um mar
num indo e vindo infinito.

Tudo que se vê
não é igual ao que a gente viu a um segundo.
Tudo muda o tempo todo no mundo.

Não adianta fugir,
nem mentir pra si mesmo.
Agora há tanta vida lá fora
e aqui dentro sempre
como uma onda no mar,
como uma onda no mar,
como uma onda no mar.



Fonte

MOTA, Nelson. Como uma onda no mar. [S.l.: s.n.], [19--].

CIÊNCIA PRA QUE E PRA QUEM?
A ciê~c!a triunfa: ja~ais seu poder foi. tão evidente. Ela conse~ui~ vencer doenç.a~
~j que d1Zlmava~, abolir trabalh~s.braçals que. extenuavam, supr~m~r tarefas repetltl-
E vas que entedlavam. Tornou vizinho o longrnquo, alargou os !Imites de nossos conhecimentos
tanto do infinitamente grande, quanto do infinitamente pequeno, tanto
do mundo inerte, quanto do mundo vivo. Conquistou, em resumo, o poder de modelar
nossas vidas, de modificar a vida. Mas também aperfeiçoou o poder de aniquilá-la. A
forma de um Exército pode fundamentar-se no número e na determinação de seus
combatentes, mas também, e principalmente, no grau de sofisticação tecnológica de
seus armamentos, como o demonstram os bombardeios sobre o lraque e, mais recentemente,
sobre a Sérvia.
Entretanto, a ciência vacila. Pela primeira vez desde o Século das Luzes, sua utilização
é questionada: o vínculo entre progresso científico e progresso social distende-se,
a ponto de ressurgirem por toda parte bolores obscurantistas. Hiroxima soara como
um primeiro lrl1V:iO. D~pois, a crisc ambicntal, fruto do modelo de desenvolvimento
dominante, confcriu dimcnsão planctária a esse questionamento. Aconlecc que tal modelo
é indissociávcl de uma utilização descnfrcada e indistinta da chamada inovação
tecnológica. Por fim, os avanços da biotccnologia, também portadorcs de imensos perigos
para a dignidade do ser humano, costumam servir tão-somente à ganância de seus
promotores.
Ninguém acusa a ciência por ela não saber tudo: ela não é çriticada, por exemplo,
por ainda buscar uma vacina contra a Aids ou por ainda manter-sc no terreno das hipótescs
a respeito do Big Bang. Ela jamais prctendeu ter chegado ao fim, tal como alguns
proclamaram em relação à história. Scm dúvida, .ela deve continu3r a sondar incansavclmcntc
os inúmeros mistérios que pcrdur3m. Mas não podc mais -e, sobretudo,
não podcmos mais, graças a ela c junto com ela -ignorar a questão primordial:
ciência, por quc c para quem? Em outr3s paI3vra~, as prioridades dos pesquisadores, a
orientação dc scus trabalhos, seus tipos de organização, os níveis de financiamento
que eles recebem e a circulação dos conhecimentos por eles revelados vão ao encontro
do bcm e do intcrcsse públicos? Ou, em detrimento da pesquisa fundamental e de longo
prazo, eles estão voltados essencialmente para os consumidores com maior poder
de compra? Como conscqiiência da "privatização" crescente da pesquisa, não estarão
sendo negligenciadas as necessidades essenciais e universais, apen3s por não serem
imediatamente rentáveis?
Os excluídos desse novo "poder científico" devem fazer-se ouvir. Os habitantes das
600 mil aldeias privadas de eletricidade, ou os 2 bilhões de seres humanos sem acesso
à água potável, por exemplo, têm o direito de exigir da pesquisa soluções adaptadas a
seus -tão parcos -recursos. Além disso, a humanidade inteir3 tem o direito de exigir
que a pesquisa dê absoluta prioridade às causas dps problemas planetários e aos
meios de enfrentá-los. E mais ainda: todos os cidadãos têm o direito de exigir uma
melhor compreensão das causas das desigualdades e da exclusão que corroem pouco a
pouco a paz e a democracia.
Foi para avançar rumo a eSse novo contrato entre as ciencias e as sociedades que a
Unesco, juntamente com o Conselho Internacional para a Ciência (Cius), reuniu no
final de junho último, em Budapcste, cientistas, empresas privadas, go\"emantes e atores
sociais. Com uma preocupação primordial: que os benefícios da ciência atinjam
em primeiro lugar todos os que ela deixa de lado. Seu poder I: l;io gr3nde. que ~ esse o
preço do progrcsso dos exl:luídos. .


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu?
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa. Para você o que e verdade em ciência ?
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.


Para que o conhecimento seja gerado , são necessários três elementos:

Maria Vanderly Silvino